sábado, 24 de dezembro de 2011

COMISSÃO QUE TENTOU SENSIBILIZAR O BISPO EM RELAÇÃO A LAVAGEM DA ESCADARIA DA CATEDRAL.RESOLVERAM QUE NÃO HAVERÁ MISSA NOS DIAS 30 E 31 PARA QUE NÃO ENTREMOS NA IGREJA POIS NÃO QUER QUE NOS MISTUREMOS COM SEUS FIÉIS. DISSE QUE SE FORMOS VESTIDOS DECENTEMENTE PODERIAMOS ASSISTIR A MISSA. A LAVAGEM DAS ESCADARIAS DA CATEDRAL ACONTECE DESDE 2005 ONDE FOI AUTORIZADO PELO MESMO BISPO QUE NOS DESCRIMINA HOJE, DISSE-NOS QUE FOSSEMOS FAZER ESSE RITUAL NA IGREJA EVANGÉLICA. ESSE RITUAL DE LAVAGEM DAS ESCADARIAS JA FAZ DO CALENDÁRIO CULTURAL DE CORUMBÁ QUE POR VONTADE DE UM PADRE PRECONCEITUOSO ESSE ANO TENTOU RETIRAR UM ESPAÇO QUE É NOSSO POR DIREITO, MAIS NÃO SERÁ UM PEQUENO ENCALÇO CRIADO POR ALGUEM QUE SE DIZ DONO DA CASA DE DEUS QUE IRÁ NOS ABALAR SOMOS AFRO DESCENDENTES GUERREIROS E ESTAREMOS SIM NO DIA 30 FAZENDO A LAVAGEM DAS ESCADARIAS EM AGRADECIMENTO A TUDO QUE O SENHOR NOS DEU NESSE ANO. SOMOS GUERREIRO DESDE QUE NASCEMOS POIS SABEMOS DAS DIFICULDADES QUE NOS SERÃO IMPOSTAS E QUANDO PENSAMOS QUE CONQUISTAMOS NOSSOS DIREITOS APARECEM OS PADRES FABIO VIEIRA DA VIDA QUE NOS ESCRACHAM EM REDE DIZENDO PALAVRAS PRECONCEITUOSAS. PERGUNTO QUE IGREJA É ESSA QUE EM VEZ DE PREGAR A UNIÃO NOS TRATA COMO NADA FOSSEMOS. ATENÇÃO SR PADRE FABIO VIEIRA DESCRIMINAÇÃO RACIAL DE GENERO DE CREDO OU QUALQUER OUTRA É CRIME. ATENTE A SUAS PALAVRAS E VEJA COMO SERÁ LINDA A LAVAGEM DAS ESCADARIAS POIS ESTAREMOS LÁ UNIDOS PELO AMOR DO PAI SEJE OXALA, OLORUM SEJE SIMPLESMENTE NOSSO DEUS . AXÉ A TODOS E QUE COMPAREÇAM A CATEDRAL DE CORUMBÁ NO DIA 30 AS 19.00HS PARA NOS AJUDAR E MOSTRARMOS QUEM ESTÁ ERRADO? AXÉ MEMBROS DA COMISSÃO ; PAI CLEMISON, PAI HAMILTON, PAI DEAMIR, ELENIR E A SRª JANETE REPRESENTANDO A RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA, ROGÉRIO CESAR REPRESENTANDO A GERENCIA DE PROMOÇÃO E IGUALDADE RACIAL, NARA NAZARETH REPRESENTANDO O IMKOP E A EDNIR DE PAULA O IMNEGRA PESSOAS LIGADAS DIRETAMENTE AO MOVIMENTO NEGRO DE CORUMBÁ.






segunda-feira, 21 de novembro de 2011

BELEZA NEGRA ESTUDANTIL 2011

PARABÉNS AFROS DESCENDENTES A BELEZA É NATURAL 
Dezessete candidatos, entre 10 e 17 anos, participaram do 1º Concurso Beleza Negra Estudantil promovido na noite de domingo, 20 de novembro, pelo Instituto Madê Korê Odara do Pantanal (IMKOP) para celebrar o Dia da Consciência Negra, em Corumbá. A data é feriado municipal. O evento foi realizado no giásio do Corumbaense Futebol Clube.
Fotos: Anderson Gallo/Diário Online

Tales e Margarida venceram primeira edição do concurso de beleza
Vencedora do Beleza Negra Estudantil, Margarida Nascimento Gonçalves, 17, destacou que o concurso tem um viés importante na sociedade: "É uma forma de valorizar a beleza negra e temos que valorizá-la", disse ao Diário a estudante do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Nathércia Pompeo dos Santos.
"Foi uma iniciativa muito boa, já ganhei três vezes na escola onde estudava; continuei e hoje ganhei em Corumbá", declarou a jovem ganhadora. Doze garotas disputaram o título.
Tales Augusto Costa Rosário, 15, foi o campeão masculino. Na verdade, o aluno da 8ª série da Escola Municipal Caic Padre Ernesto Sassida, ficou na segunda colocação geral com 185 pontos, mas foi o primeiro entre os cinco candidatos da categoria. "Foi muito bom representar minha raça, valeu a pena. Não esperava ganhar não", disse o garoto.

Margarida afirmou que evento ajuda na valorização racial
Os cinco jurados deram notas de 5 a 10 para os quesitos: simpatia; passarela; beleza e traje. Além da roupa cotidiana, os candidatos desfilaram com trajes que remetiam à cultura africana.
Atitude
Presidente do Instituto Madê Korê Odara do Pantanal, Nara Nazareth de Lima Monteiro, afirmou que os candidatos mostraram "atitude" ao participar do concurso que não contou com grandes patrocínios e apoios para sua realização.
"Esses jovens tiveram a atitude [de assumir a negritude] a partir do momento em que aceitaram participar do evento. A atitude foi totalmente deles, as escolas não participaram. Eles, os alunos se prontificaram a participar. Os alunos vieram e isso fortaleceu essa iniciativa. Foi atitude, mesmo", enfatizou a presidente do IMKOP.
Para Nara, a participação dos adolescentes no Beleza Negra Estudantil foi uma etapa significativa para uma inclusão, ainda maior, da juventude corumbaense no movimento negro. "É o primeiro passo em se tratando de juventude, porque é fácil falar do movimento negro e contar histórias do passado, mas temos que ver o presente. Esse projeto é mais amplo que o concurso", complementou.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ABDIAS NASCIMENTO (SÁBIO)





"Sei muito bem que meu discurso costuma ser desagradável num país que se acostumou a achar que negros bons são aqueles que conhecem o ‘seu lugar’, que é o da submissão e o da inferioridade.” (Abdias)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Demonstração de trabalhos feitos através de doações tecidos



Reutilização de Garrafa Pet

Vassoura de Garrafa




O IMKOP presente em todas atividades de conscientização em favor do  MEIO AMBIENTE

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ESTATUTO

2ª Reunião do IMKOP, com leitura do Estatuto a todos presente. Aprovado o Estatuto, foi apresentada a 1ª Chapa para apreciação de todos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Instituto Madê Korê Odara do Pantanal tem por objetivos

A) Intercâmbios Comerciais, Educacionais, Esportivas e Culturais, com todos os países e em especial com os países africanos e de diáspora negra, elaborar e sugerir políticas publicas, executar trabalhos junto ás comunidades do município e estabelecer estratégias, para proporcionar ao povo afro descendente e indígena , uma maior auto estima, e desenvolvimento sócio econômico, Educacional e Cultural.
B) Cooperar na construção da autonomia e fortalecimento de grupos em situação de vulnerabilidade socioeconômico, sócio ambiental, e contribuir para o sustento das comunidades e melhoria de suas condições de vida. (Saúde, Educação, Esporte, Cultura, Soberania alimentar, Organizações Sociais entre outras).
C) Realizar trabalhos de Assistência Social Beneficente, Educacionais, Culturais, Esportivos, Recreativos, de Implementação de Direitos Humanos, realizar pesquisas, treinamentos, ensinos, capacitação, qualificação, e outras ações no campo educacional e cultural.
D) Colaborar com o desenvolvimento Institucional, através de consultorias e assessorias na esfera educacional, sociocultural e ambiental.
E) Promover e realizar parcerias públicas ou privadas, convênios e termos de cooperação nas suas varias modalidades para trabalhos de assessoria , consultoria, assistência técnica e jurídica em todos os setores de produção na cidade e no campo, e também no desenvolvimento auto sustentável do eco turismo, da proteção do meio ambiente, da educação, da cultura , da saúde, do esporte, do lazer, visando o desenvolvimento e a geração de trabalho emprego e renda.
F) Apoiar e promover junto com as comunidades negras urbanas e rurais em âmbito nacional, na esfera publica ou privada a defesa das titulações dos territórios dos remanescentes das comunidades de quilombos, conforme o art.68 das disposições constitucionais e transitórias da constituição federal de 1988.
G) Desenvolver campanhas de conscientização sensibilizando a sociedade civil sobre as condições de vida dos povos étnico-racial, fronteiriços, tradicionais e indígenas.
H) Outros objetivos que não conflitem com o presente estatuto social.

sábado, 8 de janeiro de 2011

PESQUISANDO O MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL




Pesquisando o movimento negro no Brasil
Influenciada pela luta anti-racismo na África e nos Estados Unidos, a militância brasileira cresceu nos anos 1970 e hoje colhe grandes conquistas
Verena Alberti e Amilcar Araujo Pereira
O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 13 de junho de 1964 com a finalidade de coordenar as atividades de informação e contra-informação em todo o país, produziu inúmeros relatórios sobre assuntos julgados pertinentes à Segurança Nacional durante o regime militar. Num deles, de 14 de julho de 1978, podemos encontrar um relato sobre a manifestação, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, daquilo que se tornaria mais adiante o Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades do movimento negro surgidas no Brasil na década de 1970.
Realizou-se em São Paulo, no dia 7 julho de 1978, na área fronteiriça ao Teatro Municipal, junto ao Viaduto do Chá, uma concentração organizada pelo autodenominado “Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial”, integrado por vários grupos, cujos objetivos principais anunciados são: denunciar, permanentemente, todo tipo de racismo e organizar a comunidade negra. Embora não seja, ainda, um “movimento de massa”, os dados disponíveis caracterizam a existência de uma campanha para estimular antagonismos raciais no País e que, paralelamente, revela tendências ideológicas de esquerda. Convém assinalar que a presença no Brasil de Abdias do Nascimento, professor em Nova Iorque, conhecido racista negro, ligado aos movimentos de libertação na África, contribuiu, por certo, para a instalação do já citado “Movimento Unificado”.
Esse documento, que se encontra no Arquivo Ernesto Geisel, depositado no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas, não é o único produzido pelos órgãos de informação da época sobre a atividade de militantes e organizações do movimento negro. Mas ele nos ajuda a situar a atuação desse movimento social na História do Brasil, mais especificamente no contexto da abertura política, iniciada em 1974. Desde o início da década de 1970, é possível registrar a formação de entidades que, como diz o relatório do SNI, buscavam denunciar o racismo e organizar a comunidade negra. Por exemplo, o Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971; o Centro de Estudos e Arte Negra (Cecan), aberto em São Paulo em 1972; a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), inaugurada no Rio de Janeiro em 1974, e o Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador também em 1974. Militantes de algumas dessas e de outras entidades articularam-se em 1978 para a realização do ato público ao qual o documento do SNI se refere. Sua motivação teve origem no assassinato do jovem negro Robson Silveira da Luz, no distrito policial de Guaianazes, para onde tinha sido levado preso, acusado de roubar frutas numa feira, e na discriminação sofrida por quatro meninos negros impedidos de treinar vôlei no time infantil do Clube de Regatas Tietê.
A manifestação contou com a presença de Abdias do Nascimento, militante de longa data, que em 1968 havia se exilado nos Estados Unidos, onde foi professor em várias universidades. O fato de ser apontado como “conhecido racista negro” pelo relatório do SNI é um dado interessante e pode ser explicado pela forte atuação do movimento negro, naquela época, no sentido da denúncia do chamado “mito da democracia racial”, isto é, da idéia de que não haveria racismo no Brasil. Como Abdias do Nascimento, de acordo com o SNI, denunciava um racismo “inexistente”, ele mesmo seria racista. Outro documento, de janeiro do mesmo ano de 1978, advertia: “Esses movimentos, caso continuem a crescer e se radicalizar, poderão vir a originar conflitos raciais”.
As organizações formadas na década de 1970 não foram as primeiras na história do país. Logo depois da abolição, no final do século XIX, já circulavam jornais voltados para as populações negras, como o Treze de Maio, do Rio de Janeiro (1888), e O Exemplo, de Porto Alegre (1892). Em São Paulo, a chamada “imprensa negra paulista” denunciava, nos anos 1920, a discriminação racial. Dela surgiram alguns dos fundadores da Frente Negra Brasileira, em 1931, que chegou a se transformar em partido político em 1936, mas logo foi extinta, como os demais partidos, pelo Estado Novo no ano seguinte. Na década de 1940 foram fundadas várias entidades, como a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do Negro.
Muitos dos documentos desse período mostram que não era rara a circulação de referenciais e informações de fora do Brasil, principalmente da África e dos Estados Unidos. O jornal O Clarim d’Alvorada, publicado de 1924 a 1932 em São Paulo, abrigava uma seção intitulada “O mundo negro”, na qual eram publicadas traduções de artigos do jamaicano Marcus Garvey (1887-1940), defensor do pan-africanismo. O jornal Quilombo, fundado por Abdias do Nascimento em 1948, reproduzia com freqüência artigos da revista Présence Africaine, publicada em Paris e Dacar a partir de 1947, sob a direção do senegalês Alioune Diop. Nos anos 1960, esse intercâmbio se intensificou diante das lutas de libertação das colônias africanas e da mobilização pelos direitos civis nos Estados Unidos. Como se viu no documento reproduzido acima, Abdias do Nascimento oferecia perigo, segundo os investigadores do SNI, porque estava “ligado aos movimentos de libertação na África”.
As idéias que circulavam entre os militantes nos anos 1970 e 1980 e suas formas de ação – como o ato público realizado em São Paulo em 1978 – foram objeto da pesquisa “História do movimento negro no Brasil: constituição de acervo de entrevistas de história oral”, que desenvolvemos no CPDOC entre 2003 e 2007. A metodologia da história oral, que consiste na realização de entrevistas gravadas com testemunhos do passado, permite o registro de narrativas de experiência pessoal e o conhecimento de formas de articulação e de visões de mundo de pessoas e grupos.
Essas entrevistas nos permitiram perceber que, além dos poetas de língua francesa, que continuaram a ser lidos e discutidos, e da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1992, outro assunto que mobilizava as atenções era a independência dos países africanos de colonização portuguesa – Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe –, ocorrida entre 1974 e 1975, poucos anos antes do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. É recorrente, por exemplo, a menção aos Poemas de Angola, de Agostinho Neto, fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola e primeiro presidente do país, em 1975.
Muitas vezes, essas leituras são lembradas como cruciais para a conscientização do entrevistado e para sua opção pela militância. A descoberta de si mesmo como negro se mesclava a uma tomada de posição política, levando a atitudes que, nos dias de hoje, já não têm o mesmo peso. O simples ato de comprar uma revista, por exemplo, era decisivo. Foi o que nos contou Carlos Alberto Medeiros, militante do movimento negro no Rio de Janeiro desde a década de 1970:
Eu trabalhava no Jornal do Brasil, que era na Avenida Rio Branco 110. Eu passava lá e via revistas estrangeiras nas bancas de jornal. E havia uma revista da qual eu já ouvira falar no Rio Grande do Sul, a revista Ebony. Eu passava, via a revista, tinha até alguma curiosidade. Mas até para comprar a revista a primeira vez eu tive que romper com alguma coisa. Porque comprar uma revista de negros tinha um significado de identificação. Eu já tinha um domínio do inglês que dava para ler. Até que um dia eu comprei. E era final da segunda metade de 1969, na época em que estava aquela coisa do black is beautiful, do cabelo afro. E aquilo foi quase um amor à primeira vista. Bati o olho e falei: “É isso que falta.”
Publicações do gênero influenciavam a formação e a disseminação de uma consciência da negritude. Magno Cruz, importante referência do movimento no Maranhão desde o início dos anos 1980, relata como foi atingido por essa estratégia inicial. Em 1979, ele chegou a assinar a ata de criação do Centro de Cultura Negra (CCN) local, a convite de sua fundadora, Mundinha Araújo. Mas levou certo tempo até atuar como militante:
Eu sou fundador fictício, porque não fui fundador orgânico que estava lá no início, nas primeiras reuniões. Qual era a minha resistência em me engajar no trabalho do CCN? Eu não me considerava negro. Inclusive o meu apelido na faculdade era Moreno. E eu era crente que eu era moreno. Pensava: como ia participar de uma entidade do movimento negro se eu não me considerava negro? Mas, com os seminários e com as palestras, que houve muito, eu fui mudando. A Mundinha deu o encaminhamento que eu acho que foi o melhor possível, porque foi de formação. As primeiras reuniões eram reuniões de estudo. Era uma sala, talvez um pouquinho maior do que essa aqui; quando iam mais de 30 pessoas, tinha que ficar gente do lado de fora. E era texto para a gente ler, jornal para a gente ler, para discutir, livros… Ninguém sabia nada sobre a história do negro. E aí, com esses cursos, esses seminários de que eu fui participando, eu fui percebendo que era negro.
A essa estratégia de mobilização somavam-se várias outras, como a adoção do penteado afro, a produção de audiovisuais, jornais e panfletos, a difusão de informações em feiras e locais públicos, a montagem de peças de teatro e a organização de grupos de dança e de blocos afro. Encontros estaduais e regionais estimulavam o crescimento do movimento negro. Em agosto de 1980, ocorreu o I Encontro Memorial Zumbi, em Alagoas, com a presença de líderes nacionais, como Abdias do Nascimento e a antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994). O evento impulsionou a realização dos Encontros de Negros do Norte e Nordeste, iniciados no ano seguinte. A partir de meados da década de 1980, registram-se outros encontros em diferentes estados, além dos Encontros de Negros do Sul-Sudeste e dos Encontros Estaduais e Nacionais de Mulheres Negras. O I Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, realizado em 1995, deu origem à Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas, criada em 1996.
A metodologia da história oral permite conhecer não só como essas iniciativas ocorreram na prática, mas também de que modo, a partir delas, as reivindicações do movimento negro acabaram sendo trazidas pelos militantes para a esfera pública. Trata-se, pois, de uma ferramenta importante para o estudo da história política. Hoje existem diversas secretarias voltadas para a promoção da igualdade racial, no governo federal e em governos estaduais e municipais, e novos artigos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB de 1996, que tornam obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas do país e incluem o dia 20 de novembro no calendário escolar como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
Aliás, o primeiro ato evocativo de celebração do 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, foi realizado pelo Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971. Passados sete anos, a segunda assembléia nacional do MNU, realizada em Salvador em novembro de 1978, declarou a data o “Dia Nacional da Consciência Negra”, que hoje é feriado em mais de duzentos municípios do país. Este é um exemplo bastante evidente do trabalho de disputa pela memória nacional, que culminou com a inscrição do nome de Zumbi no livro dos heróis da pátria, em 20 de novembro de 1996.
Outra possibilidade aberta pela realização de pesquisas de história oral é o acesso a experiências e interpretações do passado que não são necessariamente aquelas consagradas por uma “história nacional”. Esse pluralismo é facilmente compreendido quando percebemos que as entrevistas nos apresentam novas periodizações. Do ponto de vista de nossos entrevistados, a repercussão nacional do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, possibilitou a criação de muitas organizações em diferentes estados do país e acabou sendo responsável pela difusão da noção de “movimento negro” como designação genérica para as diversas entidades e ações a partir daquele momento.
O marco seguinte foi o ano de 1988, por duas razões: comemorava-se o centenário da Abolição, o que motivou uma série de ações de protesto que denunciavam as condições de vida dos negros no país, e elaborava-se uma nova Constituição. Duas importantes reivindicações do movimento viraram texto constitucional – a criminalização do racismo (Artigo 5) e o reconhecimento da propriedade das terras de remanescentes de quilombos (Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Os anos de 1995 e 2001 são os dois momentos seguintes. Em 1995 foi realizada em Brasília uma marcha em homenagem aos trezentos anos da morte de Zumbi dos Palmares. Era o primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, que criou então um Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, dando a partida nas primeiras iniciativas de ação afirmativa na administração pública federal. E 2001 foi o ano da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, realizada na cidade de Durban, na África do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do movimento negro em sua preparação e resultou em novos acontecimentos, como a reserva de vagas para negros em algumas universidades do país e novos compromissos assumidos pelo Estado em âmbito internacional.
O estudo da História se enriquece quando conhecemos novas periodizações, atuações e experiências, mas isso não significa que podemos esquecer os marcos nacionais. A história do movimento negro no Brasil não deve ser entendida como “descolada” da história contemporânea, tanto do Brasil como do mundo. Os marcos aqui registrados fazem sentido para o movimento negro e também para a história nacional, pois se relacionam com conjunturas como a abertura política, o centenário da Abolição, a Constituinte e o governo Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Eles tiram sentido desses contextos e emprestam-lhes novos sentidos. Esta é a riqueza da história oral.
E convém não esquecer que, no próprio universo pesquisado, as trajetórias e opiniões nunca são unânimes. Em nossa pesquisa, ouvimos pessoas de diferentes regiões e muitas vezes de posições divergentes, o que permite perceber a pluralidade de experiências e avaliações entre os próprios militantes. Mas não há dúvida de que todos tiveram por objetivo o combate ao racismo e a luta pela melhoria das condições de vida das populações negras.
Verena Alberti é pesquisadora do Programa de História Oral do CPDOC da Fundação Getulio Vargas e professora de História da Escola Alemã Corcovado, no Rio de Janeiro.
Amilcar Araujo Pereira é doutorando em História na Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista do CNPq. Ambos são organizadores do livro Histórias do movimento negro no Brasil (Rio de Janeiro: Pallas, 2007).
Saiba Mais – Livros:
HANCHARD, Michael. Orfeu e o poder: o movimento negro no Rio de Janeiro e em São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro: EdUerj, 2001.
LEITE, José Correia. …E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos. Organização e textos: Cuti (Luiz Silva). São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
PEREIRA, Amauri Mendes. Trajetória e perspectivas do movimento negro brasileiro. Rio de Janeiro: Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
SANTOS, Joel Rufino dos. “A luta organizada contra o racismo”. In: Barbosa, Wilson do Nascimento (org). Atrás do muro da noite; dinâmica das culturas afro-brasileiras. Brasília: Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, 1994.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Primeira Reunião de Apresentação do Colegiado do IMKOP...

Objetivos
Intercâmbios comerciais , Educacionais e Culturais, com todos os paìses e em especial com paìses africanos e de diáspora negra, elaborar e sugerir polìticas publicas, executar trabalhos junto as comunidades do municìpio e estabelecer estratégia, para proporcionar ao povo afro descendente e indigena, uma maior auto estima, e desenvolvimento socioeconômico , Educacional e Cultural.